sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Amo-te e amo o teu amor...

Chegado o momento
em que tudo é tudo
dos teus pés ao ventre
das ancas à nuca
ouve-se a torrente
de um rio confuso
Levanta-se o vento
Comparece a lua
Entre linguas e dentes
este sol nocturno
Nos teus quatro membros
de curvos arbustos
lavra um só incêndio
que se torna muitos
Cadente silêncio
sob o que murmuras
Por fora por dentro
do bosque do púbis
crepitam-me os dedos
tocando alaúde
nas cordas dos nervos
a que te reduzes

Assim o momento
em que tudo é tudo
Mais concretamente
água fogo música


David Mourão Ferreira

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Guarda a manhã


Guarda a manhã
Tudo o mais se pode tresmalhar

Porque
tu és o meio da manhã 

O ponto mais alto da luz 
Em explosão



Daniel Faria

As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões

As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.

É à janela dos filhos que as mulheres respiram
Sentadas nos degraus olhando para eles e muitas
Transformam-se em escadas

Muitas mulheres transformam-se em paisagens
Em árvores cheias de crianças trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias de rebentos

As mulheres aspiram para dentro
E geram continuamente.
Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao redor do coração.


Daniel Faria

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O meu amor disse-me...



O Teu Nome

Flor de acaso ou ave deslumbrante,
Palavra tremendo nas redes da poesia...

O teu nome, como o destino, chega,
O teu nome, meu amor, o teu nome nascendo,

De todas as cores do dia!


Alexandre O'Neill