quinta-feira, 22 de abril de 2010

Roll the dice

if you’re going to try, go all the way.

otherwise, don’t even start.

if you’re going to try, go all the
way.
this could mean losing girlfriends,
wives, relatives, jobs and
maybe your mind.

go all the way.
it could mean not eating for 3 or 4 days.
it could mean freezing on a
park bench.
it could mean jail,
it could mean derision,
mockery,
isolation.
isolation is the gift,
all the others are a test of your
endurance, of
how much you really want to
do it.
and you’ll do it
despite rejection and the worst odds
and it will be better than
anything else
you can imagine.

if you’re going to try,
go all the way.
there is no other feeling like
that.
you will be alone with the gods
and the nights will flame with
fire.

do it, do it, do it.
do it.

all the way
all the way.

you will ride life straight to
perfect laughter, its
the only good fight
there is.

Charles Bukowski

Girl In A Miniskirt Reading The Bible Outside My Window

Sunday, I am eating a
grapefruit, church is over at the Russian
Orthadox to the
west.

she is dark
of Eastern descent,
large brown eyes look up from the Bible
then down. a small red and black
Bible, and as she reads
her legs keep moving, moving,
she is doing a slow rythmic dance
reading the Bible. . .

long gold earrings;
2 gold bracelets on each arm,
and it's a mini-suit, I suppose,
the cloth hugs her body,
the lightest of tans is that cloth,
she twists this way and that,
long yellow legs warm in the sun. . .

there is no escaping her being
there is no desire to. . .

my radio is playing symphonic music
that she cannot hear
but her movements coincide exactly
to the rythms of the
symphony. . .

she is dark, she is dark
she is reading about God.
I am God.

Charles Bukowski

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Se tu viesses ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca



sexta-feira, 9 de abril de 2010

Lindo demais...


Toco tua boca, com um dedo toco o contorno da tua boca, vou
desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão,
como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me
fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de
cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e
te desenha no rosto, a boca eleita entre todas, com soberana liberdade
eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto e
que por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente
com a tua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão de desenha.
Tu me olhas, de perto tu me olhas, cada vez mais perto e, então,
brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos
olhos se tornam maiores, aproximam-se, sobrepõe-se e os cíclopes
se olham, respirando indistintas, as bocas encontram-se e lutam
debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a
língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado
vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as
minhas mãos procuram afogar-se nos teus cabelos, acariciar
lentamente a profundidade do teu cabelo enquanto nos beijamos
como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de
movimentos vivos, de fragrância obscura. E, se nos mordemos,
a dor é doce; e, se nos afogamos num breve e terrível absorver
simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe
uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu te sinto
tremular contra mim, como uma lua na água.

Julio Cortázar

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Faz-me o favor


Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.
.
Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.
.
Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny